1.1.06

Centro do mundo

Nenhuma outra cidade tem um centro comercial como o de Recife.
Ruas estreitas, sempre formigando de gente. Lá, todos os sentidos se misturam e passear pelo mercado São José, pela rua da Imperatriz, pela rua Velha ou da Palma acaba se transformando numa espécie de transe, embalado pelos cheiros das ervas -que queimam sem parar naqueles incenssários de barro- e pelo calor dos encontrões inevitáveis. Em nenhum outro lugar se encontra santos católicos e orixás numa mesma barraquinha, a erva que "cura chulé, mal olhado, indigestão e artrite", a bijuteria da novela e tudo por noventa e nove centavos.
Mas o tempero mais forte daquelas ruelas do século passado são as pessoas, que parecem ter saído de quadros, fotografias, romances, filmes... de qualquer lugar, menos da realidade nossa de cada dia. Pessoas sem dentes, com chapéus antigos e roupas coloridas, sempre espiando do alto de toda a sabedoria, com seus olhos grandes e brancos. Sempre simpáticas e sorridentes, seja para vender, seja para passar o tempo ou só para lembrar. E lembranças é o que não falta por lá. Retratos de uma época que já passou e co-existe na simpatia e sorrisos dessa gente.
Hoje tudo estava diferente. Não tinha gente, não tinha tônicos milagrosos para vender. Deserto, absolutamente deserto. Os casarões antigos, hoje solitários, tornaram-se decadentes em sua imensidão. As ruas estreitas e de pedras, tornaram-se esburacadas e sem graça.
Quase pensei que ali não era o centro do mundo, foi então que lembrei que segundas-feiras sempre existirão...

7 comments:

Anonymous said...

Isso me fez lembrar um Hugo com 15 anos maravilhado com o centro da cidade em paralelo com um Hugo pós reveillon-perfeito nas ruas procurando sorvete. Rua de-ser-ta.
=)
Seus textos estão na melhor fase que já vi, Bel.

Anonymous said...

... em compensação, a rua da Carioca estava lotada. Todo mundo descontando o vale-presente com desconto.

Gostei do seu texto, um dia conhecerei este mercado são josé. Nem que seja para poder tirar os sapatos sem susto. :)

Clara said...

ah, eu adoro o centro do recife. não dá pra passar por ali sem se admirar com alguma novidade. =)

Anonymous said...

existem segundo dia do ano, você quis dizer, não, beibe?
:p

Anonymous said...

*existe

Anonymous said...

Adorando o novo reino... tão antigo.
Escreva mais, vejo que em cada linha tem você.

Consegui parar de fumar cigarro...
O problema de parar um vício, é que hoje ou mais tarde sempre acaba-se provando um pouco mais, e esses prazeres sempre voltam com um gosto mais forte.


:*







*imagina... te comparar a um cigarro. O.o

lucas hack said...

engraçado, o centro de florianópolis é uma procissão dos sem-memória, caminhos intricados que levam para o mesmo calçadão ladrilhado com pedrinhas brancas-e-pretas, a aorta que irriga a parte mais movimentada da cidade.

todas as lembranças e sensações meio que se perdem, enfiadas em prédios altos que engolem o céu, e lojas modernas aproveitando as fachadas das construções antigas.

vai ver, eu sou mesmo é de olhar todo o burburinho de longe, daqui do outro lado da ponte. =]

saudades, querida. =***