29.5.06

Memórias.

Os cheiros me invadem sem perguntar e me carregam pra longe no tempo, para uma época específica e todos os sentimentos de então, devastando as barreiras e linhas do tempo. Nessas horas, abro bem as narinas e aspiro o ar com força, numa tentativa de viver tudo de novo com mais força.
É um processo meio masoquista, isso de reviver emoções superadas, mas, ao mesmo tempo, irresistível e inevitável. E é assim também que me pego sorrindo, boba e sozinha num quarto. Você nunca sabe ao certo aonde está sendo levada e o melhor mesmo é se deixar ir. Acontece que os cheiros estão em todo lugar: dentro de livros, de perfumes antigos, em alguma comida, em uma roupa guardada demais ou numa marca de desodorante que tinha sido esquecida.
Todos os momentos e todas as pessoas importantes têm um cheiro bem definido na minha memória, às vezes mais definidos que as imagens ou sons. Na verdade, nunca sei se as minhas memórias olfativas são derivadas de coisas reais ou apenas da minha imaginação, de suposições, romantismo e especulação. Metade da minha vida só existe na minha cabeça e a outra metade é toda alterada para ficar mais fácil de aguentar.

1 comment:

Paulo Trigueiro said...

Eu tenho cheiro de que? :/